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Você conhece Pichon Riviere?

11/06/2019

Psicanálise e social, como operar?

O título desse ensaio faz um jogo de palavras com o autor e sua obra, para então lembrar de seu aniversário.  Enrique Pichon Riviere, nascido em Genebra em 25/06/1907, logo imigra para Argentina em 1910, onde vive inicialmente no interior, com sua família culta e progressista. Em 1926, passa a viver na capital efervescente de cultura e arte, a Buenos Aires e seu modernismo do início do século, a que o jovem médico psiquiatra também admirava. Falece na Argentina, em 1977.

Pichon Rivière foi um entusiasta da psicanálise, integrando-a na psiquiatria argentina, sendo o fundador da APA – Associação Psicanalítica Argentina. Seu trabalho com grupos, que denominou operativos, se mostrou como preponderante em sua obra, mas também se dedicava a temas referentes à psicossomática, a psicose e ao atendimento de crianças.

Em seu trabalho desenvolvido no hospício de Las Merces, em Buenos Aires, faz a transição entre a psicanálise e a psicologia social. Através de seus grupos operativos, pretendia extrair instrumentos e ferramentas para apreensão e modificação da realidade.

Na década de 60/70 o autor traduz o amadurecimento de sua obra teórica, conceituando o ECRO- Esquema Conceitual Referencial e Operativo, que pretende pesquisar a constituição da subjetividade no tecido da macroestrutura social, em sua dialética no cotidiano. A prática clínica no atendimento de pacientes se destaca como ponto de retificação permanente e dialética, sendo a sua teoria levada à práxis.

Para Pichón Riviere, o sujeito vive em um “implacável interjogo” com o tecido social e cultural, transformando-se e modificando o mundo a sua volta, como produto inequívoco das interações entre grupos, indivíduos e classes.

O ser humano nasce despreparado instintivamente para o seu meio ambiente e necessita de outro social para se constituir, em meio a tramas afetivas, relacionais e de vínculos.  Pichon Rivière traz para o campo social o desamparo inaugural, primevo e trágico a que todos estão submetidos, descrito por Freud, no início da Psicanálise.

Nessa sua constituição atravessada pelo outro social, institucional, familiar, cultural em que está imerso, o sujeito constrói suas identificações, sua maneira de estar no mundo e edifica seu “aparelho de pensamentos e sentimentos”, com o qual interage com a realidade.

A condição de saúde estaria, então, relacionada a um posicionamento flexível e dialético do sujeito ante as transformações a seu redor. Uma posição de fixação poderia tirar a característica de abertura do ser humano para o novo e a mudança.

Enrique Pichón Riviere traz avanços que passam  a ser estudados anos mais tarde, na década de 80 do século XX pelas ciências sociais, nas inter-relações entre o sujeito e o mundo moderno, seus avanços e modificações constantes, a que somos forçados a nos readaptar continuamente.

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